quarta-feira, 26 de outubro de 2011



Da inveja



Ontem tive uma briga pelo telefone com minha mãe. Mais uma de tantas outras mil brigas. E o assunto sempre se repete: meu irmão.... Penso que todo homem adulto é o produto criado pelas mães. Há homens que literalmente se colocam numa posição totalmente Peter Pan diante da vida que acabam dando em merdas. E as culpadas disso tudo, são elas, as mães edipianas. Estou sendo cruel com essa categoria? Creio que sim, porque todo ato de amor deve ser entendido. Criar um filho é um ato de amor, só que como se cria pro mundo, este mundo julgará os bebês dessas Jocastas. Eu julgo o bebê lá de casa



Ela veio me contar mais uma das grosserias do meninão de 30 anos: se recusou de levar minha tia em casa porque “tinha” que ir na academia malhar os braços e esquecer das pernas de bambu (estou com raiva e me coloco no direito de colocar dedinhos nas feridas) E ai, feito um Pedro Bó, perguntei: e você mãe, o que fez? E veio a resposta que parece decorada desde a concepção do dito cujo: ahh, eu xinguei muito. Ele nem pega mais no carro. ..



Foi ai que eu explodi. Misturei assuntos, fiz grosserias. Comparei a minha vida com a dele. Usei argumentos altamente feministas e histéricos dramáticos, como se eu fosse a filha mais perfeita do mundo que pagasse um preço por se lançar ao mundo pra viver. E depois de desligar o telefone, e fazer uma análise de todos esses anos de incomodo, eu cheguei a uma conclusão muito óbvia: sinto inveja do meu irmão. Muita inveja.



E porque? Porque ele vive. Meu irmão não tem compromissos com contas a pagar, cria o filho dele como se fosse um irmãozinho mais novo, sai gastando 200 contos de uísque por noite, tem muitos amigos, malha todos os dias , trabalha no escritório do meu pai, sem custo algum e eu?



Sempre me incomodei com a posição de dependencia em relação aos meus pais. Durante a faculdade, isso foi uma constante na minha vida. Dependia totalmente e nunca lidei bem com isso. Rotineiramente o sentimento era de vergonha. E vi no mundo dos concursos a chance de sair desse ciclo vicioso, de ser adulta de verdade. Saí de casa, mudei de cidade, sofri e sofro pra caramba pra me adaptar à solidão diária. Mas, isso tudo foi opção minha. Ponto. Eu poderia continuar com meu consultorio, pago pelo meu pai. Continuar naquele apartamento, dormindo até as 11 horas. Ir para minha academia preferida todas as noites. Sair com minhas amigas e possivelmente arrumar um namorado numa balada qualquer. Só que eu não quis. Eu rompi com esse vinculo sufocante e, contraditoriamente, sofro pelas consequencias desse rompimento. Estou solitária. Então, quando penso que meu irmão fez exatamente o contrário de mim eu percebo a inveja.



De fato, invejo a coragem do meu irmão de permanecer no ostracismo e ligar o dane-se pro que falam dele. Para ele, a vida é o aqui agora. Futuro não existe.

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